segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Sobre a intencionalidade dos nossos comentários

No nosso último encontro no ESPEAD fizemos um exercício interessante de refletirmos em grupo sobre a "qualidade" dos comentários postados para os alunos nos diversos espaços do PEAD. Além dessa reflexão, nos foi proposto que escrevêssemos conjuntamente um comentário considerado "ideal". Deste exercício pudemos discutir sobre as diferentes formas de intervenções e nossos estilos singulares de sermos tutores.
Ainda naquela semana me deparei com uma postagem de uma aluna sobre os comentários postados para ela:

"...Confesso que fiz meu trabalho achando que realmente teria colocado o que penso e de acordo com o meu agir durante estes anos. Sei que todo este trabalho é para enriquecer nossa prática, mas confesso que estou um pouco desanimada, pois até agora não fiz nenhum trabalho que não houvesse observações, parece que nunca ta bom. Quando escrevo coloco palavras simples do meu dia-a-dia, não fico tirando teoria da internet e enfeitando meus trabalhos com palavras prontas. Mas parece que é isto que esta faltando!!!".

Tentando seguir a metodologia proposta pelo curso, tenho realizado meus comentários buscando trazer novas questões a partir do que os alunos escrevem em suas atividades, visando uma "pedagogia da pergunta" (Carvalho, Nevado e Bordas, 2006). Porém, essa aluna interpretou meu comentário como uma avaliação - "observações" segundo ela - "negativa" do seu trabalho.
Fiquei pensando que se o professor necessita de um "tempo" para desconstruir práticas pedagógicas arraigadas a longo tempo no seu fazer, o aluno também precisa de um "tempo" para se colocar em uma posição diferente enquanto aluno. E não é sem confronto e sem reflexão que se faz isso. Corre-se o risco de que os alunos não compreendam e não embarquem nesse tempo de mudanças se não nos atentarmos sobre o que nos é demandado e o que "devolvemos" para o aluno. Nessa situação, a resposta que me foi possível dar foi a seguinte:

"Oi ..., estou colocando comentários em todos os trabalhos postados por ti e pelos colegas. Minha intenção é que possamos estar sempre aprofundando nossas reflexões. Abração, Sibicca".

Minha intenção naquele momento foi sugerir para a aluna que o meu comentário não se tratava de um julgamento sobre a qualidade das suas reflexões, mas sim um convite para continuarmos refletindo sempre mais.

Não sei se esta foi a melhor estratégia, mas penso que devemos estar atentos para a intencionalidade dos nossos comentários.

Referência:

CARVALHO, Marie Jane Soares; NEVADO, Rosane Aragon de; BORDAS, Mérion Campos. Guia do Tutor. Porto Alegre: Gráfica da UFRGS, 2006.

2 comentários:

Simone Rocha disse...

OI, Si. Esta postagem toca num ponto muito delicado da nossa ação enquanto tutoras, o "comentário de trabalhos". Cada vez que faço um comentário, leio e releio para ter certeza que este implicará numa reflexão positiva por parte da aluna, pois tenho receio de ser mal interpretada. Procuro sempre destacar pontos positivos e àqueles aspectos não muito claros, recorro à pedagogia da pergunta, como tu bem disse. Mas será que estou certa? Fico bastante preocupada, mas ao mesmo tempo sinto necessidade de fazê-lo, pois sei que elas esperam comentários, necessitam dessa "avaliação", dessa orientação, até porque ainda estão muito apegadas ao "certo ou errado", Temos a obrigação de orientá-las no sentido de que a aprendizagem é um processo e que a postagem comentada em questão não é um produto pronto, acabado. Vivenciando essa avaliação em que a ênfase é o processo não o produto, esperamos que estas também possam colocar em prática com seus alunos, no momento de avaliá-los.
bjs

Michelle disse...

Olá Sibicca!
Gostaria de deixar registrado aqui, o quanto o teu blog é esclarecedor no sentido de "modelos de postagens", sente-se que consegues expressar claramente as tuas aprendizagens, o que para mim é um pouco difícil.
Gostaria de agradecer também os comentários que tu colocas no meu portfólio, pois além de pensar que tu sempre quer mais, sempre parece querer espremer o que no momento está esgotado pra mim, entendo que esta é tua forma de me ajudar enquanto estudante e pessoa.
Por tudo isso, muito obrigado.
Abraços...Michelle Bremm.